É com frequência que os meus coachees sentem conflitos quanto a cobrar e a quanto cobrar, em especial os que trabalham em áreas espirituais ou energéticas. Eu entendo perfeitamente! Senti o mesmo quando comecei a trabalhar com Reiki em 2006.
Como aprendi a valorizar-me
Logo nessa altura, foi-me mostrado que não cobrar colocava os meus clientes em dívida para comigo e, se calhar eu própria não ficava confortável. Num mês, surgiram 3 clientes que não podiam pagar e a quem ofereci sessões de Reiki e. Umas semanas depois, com uma diferença de dias, contactaram-me a dizer que precisavam de mais uma sessão, mas não podiam pagar. Eu sugeri, então, que acordássemos pagamentos parcelados. Zangaram-se comigo e de tudo o que me disseram o que me ficou foi “Você não devia cobrar!”. E eu fiquei indignada com isto. Estas pessoas seriam, talvez, as que menos teriam para se queixar porque eu ofereci o meu tempo e espaço e ainda estava disposta a facilitar o pagamento.
Aprendi tanto com isto. Percebi que eu própria não estava a valorizar o meu trabalho, tempo e disponibilidade ao oferecer sessões, que estava a fazer com que as pessoas se sentissem mal, por receberem algo meu que não podiam pagar, desperdiçando a energia do que lhes tinha sido oferecido. Percebi que eu merecia mais, que o meu tempo era importante e merecia ser tratado como tal.
Eu própria paguei sessões de Reiki antes de ser Reikiana e paguei pelos workshops e cursos que fiz. Nunca me ocorreu que não deveria pagar, porque reconheço o imenso Bem que recebi e porque respeito as pessoas que estão a dar o seu tempo e conhecimento.
Depois disso, ao longo dos últimos 11 anos, raras vezes fiz ofertas. Posso facilitar pagamentos ou fazer descontos, mas não ofereço mais nada.
Há situações em que preciso de ser flexível e encontro formas criativas e respeitosas para ambos. Recordo-me de uma coachee do Brasil que não conseguia transferir dinheiro para mim de forma alguma e queria mesmo participar num curso online. O que lhe pedi foi para entregar aquele valor em bens a uma instituição de solidariedade social. Ela assim fez e agradeceu-me – não por ter facilitado o acesso ao curso – mas porque ela própria era terapeuta e eu mostrei-lhe que há formas de se ser generoso sem colocar o outro em dívida.
Eu aprendi muitas coisas importantes sobre por que cobrar o valor justos para nós (escrevi sobre o valor do que cobramos aqui).
Então porque cobrar justamente?
Formação
Para um facilitador/coach/terapeuta fazer um bom trabalho, com qualidade e empenho, teve que fazer formação adequada muitas vezes muito dispendiosa e necessita continuar a atualizar e a formar-se.
Custos operacionais
Para que saibam que existes tens que pagar as ferramentas que utilizas:
- Envio das newsletters.
- Internet (mesmo que uses a internet da tua casa, pagas por ela!).
- Telemóvel (mesmo que uses o teu telemóvel pessoal, pagas por ele!).
- Espaços de workshops e terapias.
- Aplicações para consultas ou cursos online
- Impostos (se não pagas, repensa na tua contribuição para a sociedade em que vives.
- E tudo o resto que te lembrares…
Disponibilidade e Dignidade
Para um facilitador/coach/terapeuta estar disponível para fazer este trabalho que exige uma grande dose de coração e de serenidade, temos que estar tranquilos com as nossas obrigações terrenas (comida, casa, impostos, etc.). O risco de isto não acontecer é a diminuição da qualidade do trabalho do facilitador mesmo que de forma inconsciente (Sim, não te iludas, és human@).
Todos somos merecedores de viver uma vida digna. Os facilitadores de desenvolvimento pessoal ou do que quer que seja também. Por isso devem valorizar e valorar o seu trabalho de acordo com a sua consciência.
Tenho-me deparado com terapeutas e coaches que fazem agora como independentes o que faziam como empregados de outrém (enfermeiros, fisioterapeutas, etc.) e sentem-se muito mal em cobrar o que antes faziam “gratuitamente” (em hospitais ou centros de saúde, por exemplo). A questão é que os seus serviços não eram gratuitos – era-lhes pago um salário que vinha de uma entidade e os utentes pagavam esse serviço de alguma forma (nos impostos ou num seguro de saúde). E estes profissionais – muitos altamente qualificados e com funções de responsabilidade para a saúde individual e pública – independentemente de quem lhes paga, merecem também uma vida digna!
Qualidade e Autonomia para o Cliente
Quando o cliente paga pode exigir qualidade no serviço prestado, sabe que naquele tempo tem um profissional treinado e especializado e não um amador. E, por isso, pode mais facilmente confiar no que lhe está a ser providenciado e reclamar se não se sentir satisfeito.
Quando o cliente paga tem mais autonomia e não se criam tão facilmente laços de dependência e de gratidão que são grilhões nas nossas vidas e nos impedem de ser livres nas nossas escolhas.
Estar ao Serviço do Cliente
Pensa que o que fazes na vida (o que quer que seja!) é estar ao Serviço do Outro e que uma troca justa dignifica o Outro e a Ti. Talvez assim te seja mais fácil definires o teu Valor que contribui também para o Valor do Outro.
O dinheiro faz parte da nossa experiência terrena. E quando estamos no nosso caminho, fazendo um trabalho do coração e achando-nos merecedores da vida, o dinheiro é maravilhoso. É aquilo que fazemos dele.